quarta-feira, 1 de setembro de 2010

BioFicha da Semana #1 (Lince Ibérico)

Ficha do Lince-ibérico

Miguel Monteiro (21-03-2000)

Conheça as características e ecologia do gato mais ameaçado do mundo.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Lince-ibérico Lynx pardinus é um mamífero da família dos felídeos, tem um comprimento total de 80-100 cm e altura no garrote de 40-55 cm, os machos pesam cerca de 13 Kg e as fêmeas 9,5 Kg. As comparações com 'um gato grande' são comuns mas, além do tamanho, tem três características muito particulares: a sua pelagem é castanha amarelada com manchas pretas; tem uma cauda curta com a ponta preta; as orelhas têm na extremidade pêlos em forma de pincel e apresenta umas grandes patilhas, brancas e pretas. Os seus membros posteriores são mais compridos estando adaptados para saltar e os anteriores, mais curtos e fortes, são utilizados na captura das presas.


DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

A sua área de distribuição está confinada à Península Ibérica. Pensa-se que existam em Espanha entre 880-1150 indivíduos (com não mais de 350 fêmeas reprodutoras), distribuídos de forma muito fragmentada pelo sudoeste espanhol. Portugal apresenta igualmente uma distribuição bastante fragmentada, com estimativas populacionais para os principais núcleos bastante preocupantes: Algarve e Sudoeste Alentejano 15-25 linces e Serra da Malcata 5-8. São ainda importantes os núcleos Contenda-Barrancos, Vale do Sado, Serra de Sº Mamede e Vale do Guadiana, pensando-se que as populações portuguesas, no seu conjunto, não excedam os 50 indivíduos.


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

É o felino mais ameaçado do mundo sendo considerado uma espécie em perigo de extinção pelos Livros Vermelhos de Portugal, Espanha e UICN. Está ainda protegido pelas Convenções de Berna e CITES e a Directiva Habitats (92/43/EEC) atribui-lhe o estatuto de espécie prioritária. A regressão da espécie no nosso país começou sobretudo nos anos 30-40 quando a "campanha do trigo" reduziu consideravelmente o seu habitat. A situação agravou-se nos anos 50 com o surgimento da mixomatose, que provocou uma diminuição nas populações de Coelho, e com as florestações de pinheiros e eucaliptos. A mortalidade causada pelo Homem tem sido igualmente um factor importante de ameaça. A espécie está protegida integralmente desde 1974 e existem actualmente leis que protegem o seu habitat. No entanto, em Portugal e em Espanha, a perda de habitat, a escassez de alimento e a mortalidade causada pelo o homem continuam a colocar o lince à beira da extinção.


HABITAT

Composto por bosque mediterrânico e/ou matagais densos, que lhe proporcionam abrigo e protecção, bem como áreas mais abertas, onde o Coelho é mais abundante, que lhe permitem caçar.


ALIMENTAÇÃO

A sua presa principal é o Coelho-bravo que pode constituir 70 a 90% da sua dieta. Consome ocasionalmente pequenos roedores, lebres, cervídeos e algumas aves, podendo estas presas alternativas ter uma maior importância na sua dieta em caso de escassez do coelho-bravo.

REPRODUÇÃO

A época de acasalamento ocorre entre Janeiro e Março, altura em que se podem ouvir estranhos "miados" de chamamento. O período de gestação é de 63-74 dias, nascendo entre 1 e 4 crias, geralmente 2. O macho deixa a fêmea após o acasalamento, ficando as crias ao cuidado desta por um período de aproximadamente um ano, altura em que se tornam independentes. No seu segundo ano, as crias atingem a maturidade sexual.


MOVIMENTOS

É uma espécie residente no nosso país. Poderão existir trocas de indivíduos entre as populações fronteiriças de Portugal e Espanha, nomeadamente entre a Serra da Malcata e a Serra da Gata, entre Contenda-Barrancos e a Serra Morena. O maior valor de dispersão registado para Lince-Ibérico é de 30 km, mas conhecem-se deslocações usuais em outras espécies de linces da ordem dos 100 km, podendo inclusivé passar os 400 km.


CURIOSIDADES

Estudos científicos realizados na década de 90, revelaram que, ao contrário do que se poderia supôr, a presença do Lince numa dada área favorece as populações de coelho, pois controla a densidade de outros predadores como a raposa e o sacarrabos, capturando-os ou mantendo-os afastados do seu território. Assim, em igualdade de outras condições, as densidades de coelho em áreas onde o Lince está presente são 2-4 vezes superiores às áreas onde o felino está ausente.


LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

O facto de se tratar de um animal raro, secretivo e de hábitos crepusculares, torna extremamente difícil a sua observação. A sua detecção é feita sobretudo através de indícios de presença como pegadas e rastos, excrementos e arranhadelas em árvores. No entanto, uma visita ao Parque Nacional de Doñana valerá sempre a pena e quem sabe, pode ser que se tenha a sorte e o privilégio de observar um dos 45-50 linces que aí vivem.



http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=55&cid=3767&bl=1&viewall=true#Go_1

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